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Arquitetos: MACh Arquitetos
- Área: 65 m²
- Ano: 2024
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Fotografias:Leonardo Finotti
Arquitetura e paisagem. Fruto de uma encomenda particular para um espaço de oração em uma propriedade rural próxima à cidade de Tiradentes / MG, esta capela pretende estabelecer uma marcante e ao mesmo tempo sutil relação entre arquitetura e paisagem. Água, concreto aparente, quartzito e madeira são os elementos que constituem a edificação e o mobiliário.
Tempo. Em primeiro lugar, procura-se estabelecer um percurso que considere uma dilatação do tempo e prepare o visitante para um momento de recolhimento. Dada a posição estratégica, foi escolhida para a implantação uma colina de onde se avistam o trecho rochoso e mais alto da serra, ao norte, bem como o vale e a cidade de Tiradentes, a sudoeste.
A solução para o caminho de acesso foi dada de tal modo que estivesse sempre em uma única cota de nível, na medida em que descreve percurso sinuoso a desviar das árvores existentes. Assim, o corte no terreno promove uma experiência de um contínuo distanciamento da paisagem, à medida em que o céu e a copa das árvores ganham protagonismo no percurso entremuros.
Eixos Visuais. Ao chegar na capela, o visitante tem atrás de si o eixo visual que direciona a visão ao trecho mais imponente da serra, e à sua frente (ainda que não sejam alinhados) o eixo visual orientado para o vale, com a cidade de Tiradentes e a igreja Matriz ao fundo. Estes eixos visuais foram pontos de partida fundamentais para a definição das duas paredes arqueadas e, sobretudo, dos intervalos entre elas. Embora estes eixos estejam claramente definidos, a experiência de fruição da paisagem a partir do interior da capela se dá em todas as direções, graças a separação entre a cobertura e as paredes de pedra.
Luz. De forma associada à visão da paisagem ao redor, as aberturas pontuais e perimetrais permitem a entrada de luz solar (assim como o reflexo da lua) no interior da capela, acentuando a percepção dos fluxos e movimentos da natureza. Ao mesmo tempo, a materialidade bruta e rugosa das pedras de quartzito e do concreto (cujas formas foram feitas com réguas finas de pinus) ganham relevo e textura sob a luz.
Conforto. As soluções construtivas adotadas garantem ótima inércia térmica ao espaço: cobertura de concreto armado impermeabilizada com espelho d'água e paredes espessas de pedra bruta. Ao mesmo tempo, o espaço é plenamente ventilado pela abertura perimetral, independente da direção das correntes de ar (muito puro) da região.
As mesmas características de solidez da construção, bem como as texturas das superfícies de pedra, contribuem para o conforto acústico e a reflexão sonora, ainda que, neste local, prevaleça o silêncio e os sons da fauna local.
Quanto à flexibilidade de uso do espaço, embora pensada como lugar de oração e introspecção, a capela pode dar lugar a encontros e formas diversas de uso, dada a mobilidade do mobiliário, que pode ser acomodado em um grande círculo, por exemplo.
Inovação. O projeto recorre a princípios construtivos bastante usuais na cultura arquitetônica brasileira, cabendo mencionar a esbeltez do pilar central e da casca que compõe a taça, resultantes de um projeto de cálculo estrutural bastante sofisticado.
Sustentabilidade. Materiais e tecnologias de construção locais são protagonistas desta obra, notadamente no uso dos muros de blocos de quartzito. Várias pessoas trabalharam na construção dos muros, e é possível perceber sutis variações nos padrões de organização das pedras e nos espaçamentos deixados entre elas. Como se cada operário se tornasse um artesão e deixasse gravada sua digital através deste trabalho artesanal. O uso de materiais e o emprego de mão de obra locais, incluindo a formação de novos artesãos com a transmissão de conhecimento sobre as técnicas tradicionais deste fazer, estão no centro de nossa perspectiva de sustentabilidade.
Além disso, o manejo cuidadoso do terreno, a preservação de todas as árvores existentes e a relação de simbiose da arquitetura com a paisagem que a acolhe são escolhas de projeto que apontam para o cuidado e a valorização do ambiente natural. A solução de iluminação é feita com LED de forma a assemelhar-se a luz de velas. Com um volume de luz muito baixo (portanto baixíssimo consumo), é possível destacar os vazios da arquitetura no período noturno.
Design. Por se tratar de um espaço simbólico, a arquitetura procura estabelecer uma conexão das pessoas com a natureza, a paisagem e o cosmos. As soluções de desenho são, portanto, pensadas a favor de uma experiência de imersão (dentro de uma forma circular que acolhe o visitante) bem como de expansão (através dos eixos visuais escolhidos e do anel de abertura em todo o contorno do espaço).
Relevância Social e Urbanística. Na implantação, foi considerada como fundamental a acessibilidade universal, que se dá através de rampas suaves na conexão com as demais estruturas que compõem a propriedade. Este princípio torna-se mais evidente quando o percurso de acesso corta o terreno, agora sem qualquer desnível, até chegar ao interior da capela.
A relação do corpo com o terreno varia com o deslocamento, como em um mergulho, alternando percepções de escala e relações espaciais que levam as pessoas a perceber todos os elementos da paisagem.
Integração com o entorno. A arquitetura se afirma na paisagem, porém de forma sutil e integrada. Quando vista a partir de pontos mais altos do terreno, prevalece a lâmina d'água. À medida que o volume é desvelado, percebe-se que está parcialmente enterrado, o que ajusta a escala e a proporção da obra. A capela é indissociável do percurso que lhe dá acesso. Este caminho está intimamente ligado às árvores existentes e ao céu, que passam a fazer parte também da arquitetura. Em última instância, a capela se expande espacialmente, trazendo para si a paisagem e a ela se integrando.